quinta-feira, 20 de setembro de 2012

LINGUAGEM E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, ASPECTOS IMPORTANTES NA PRIMEIRA INFÂNCIA.


Ao nascer, a criança ingressa num mundo de relações sociais que lhe abrirá todas as possibilidades de aprendizado e constituição de si mesma como sujeita.  O mundo social que a envolve é a força propulsora para que seu desenvolvimento seja efetivamente estimulado.  A criança é inserida numa determinada cultura que lhe atribuirá competências, com o passar do tempo, sobre formas de agir, pensar e sentir essa cultura.
Para um desenvolvimento eficaz, a ação pedagógica deve ser estruturada em consonância com as particularidades físicas, psicológicas e sociais da criança, levando em conta seus diferentes níveis de desenvolvimento.  E o desenvolvimento de sua linguagem está diretamente ligado à forma de interpretação que a criança passará a realizar do mundo ao seu redor, pois é através dela (a linguagem) que será estabelecida a comunicação criança-adulto e criança-criança, elementos imprescindíveis para o processo de comunicação.

Deste processo também fazem parte as histórias que podem ser contadas pela mãe ou outra pessoa envolvida pelo momento.  Contar histórias é a arte de equilibrar o que é ouvido com o que é sentido, não um teatro ou uma declamação, é um “saber usar” a voz de forma simples e harmoniosa. Faz parte da história humana o “passar de geração a geração” determinado assunto através das contações de história, onde os mais velhos eram rodeados pelos mais novos que ansiosos aguardavam as palavras sábias de seus mestres.  Além de tribos e grandes sociedades, o ato de contar histórias também faz parte da história individual do ser humano inserido em um determinado contexto onde ouvindo histórias, já na infância, entra em contato com o mundo da imaginação.  Mundo esse que auxilia o ser a lidar com diversos sentimentos, como frustrações, alegrias, tristezas, sonhos, medos, ciúmes e outros mais.
Fazendo parte deste desenvolvimento está a literatura infantil que até pouco tempo era vista como um brinquedo para a criança ou um meio para entretê-la e mantê-la quieta.  Mas através da psicologia experimental (que objetiva entender o comportamento através de situações criadas por estudiosos) a literatura foi reconhecida como importante ferramenta para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto.  A partir desse conhecimento do ser humano, a noção de “criança” muda e nesse sentido torna-se decisivo para a literatura infantil adequar-se ou conseguir falar, com autenticidade, aos seus possíveis destinatários.
Partindo do pressuposto de que o desenvolvimento da linguagem abrange estímulos propiciados na primeira infância e que a contação de histórias faz parte destes estímulos, ressalta-se a importância desses dois aspectos estarem envolvidos no cotidiano infantil em âmbito escolar e familiar para um efetivo e permanente trabalho de sucesso onde a criança é o foco principal.  É de suma importância que este trabalho seja exercido pelo mediador objetivando a internalização efetiva e permanente dos valores inseridos na cultura do qual esse indivíduo (a criança) faz parte.
Na primeira infância (compreendida dos 15/17 meses aos três anos), a criança inicia um reconhecimento da realidade ao seu redor através de diferentes fatores, assim como, contatos afetivos e estímulos sensoriais.  Os livros destinados o público infantil estão cada vez mais presentes nas instituições de Educação Infantil e têm exercido inúmeras funções.  Como as crianças gostam de ouvir histórias, o professor (a) utiliza as mesmas para transmitir valores e hábitos sociais, como normas de comportamento, hábitos de higiene, virtudes e bons comportamentos, para distrair e encantar, entre outras ações que as histórias permitem.
Segundo Filho e Castro (2002, pág.44):
 Reconhece-se nitidamente que, em seu percurso histórico, a educação infantil é marcada por funções sociais diferenciadas, que oscilam entre o assistencialismo caracterizado por um atendimento restrito às concessões médico-higiênico-nutricional e/ou a um modelo de educação compensatório-preparatória referenciado na escolaridade posterior, podendo chegar a um caráter pedagógico que contempla uma visão mais abrangente do processo ensino-aprendizagem.  Esse último assume um papel educativo por excelência, favorecendo experiências significativas que atendam aos interesses reais da criança e que viabilizem a construção do seu conhecimento.
Brincando com as palavras utilizando-se de parlendas, cantiga de roda, quadrinhas, trava línguas, o adulto trabalha o campo fonético (pronúncia) e semântico (sentido) da língua proporcionando não apenas a oportunidade de interagir, mas de se divertir e partilhar uma cultura lúdica.
Neste contexto lingüístico, a contação de histórias revela-se uma atividade interativa, estimuladora da linguagem da criança onde a mesma torna-se ator do seu desenvolvimento oportunizando-se do conhecimento permitido pelo sonhar, pelo imaginário do seu próprio mundo.  E o mais fantástico é a individualidade de cada mundo dentro de cada criança.
A importância cultural do livro só será compreendida pela mesma muito mais tarde, quando se tornar um adulto e contador de histórias.  O importante é que mesmo sem saber a importância cultural do livro a criança tenha contato com o mundo imaginário desde muito cedo.
Muitas são as formas de contar histórias, cada um apreende a forma que mais lhe seja particular, pode ser oralmente através de fantoches, dedoches, aventais de contação de histórias, maquetes, teatro, etc ou através da leitura onde o locutor necessita basicamente do objeto livro.  O importante é que seja contada com entusiasmo e transmita ao ouvinte a sua essência enquanto história, pois essas narrativas ampliam o universo cultural das crianças, fazem parte da sua constituição e da sua identidade enquanto sujeito.

                                               Professoras Katia T. L. Vier e Eliane N. S. Vanin




                                             

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