Ao nascer, a criança ingressa num mundo de
relações sociais que lhe abrirá todas as possibilidades de aprendizado e
constituição de si mesma como sujeita. O
mundo social que a envolve é a força propulsora para que seu desenvolvimento
seja efetivamente estimulado. A criança
é inserida numa determinada cultura que lhe atribuirá competências, com o
passar do tempo, sobre formas de agir, pensar e sentir essa cultura.
Para um desenvolvimento eficaz, a ação
pedagógica deve ser estruturada em consonância com as particularidades físicas,
psicológicas e sociais da criança, levando em conta seus diferentes níveis de
desenvolvimento. E o desenvolvimento de
sua linguagem está diretamente ligado à forma de interpretação que a criança
passará a realizar do mundo ao seu redor, pois é através dela (a linguagem) que
será estabelecida a comunicação criança-adulto e criança-criança, elementos
imprescindíveis para o processo de comunicação.
Deste
processo também fazem parte as histórias que podem ser contadas pela mãe ou
outra pessoa envolvida pelo momento.
Contar histórias é a arte de equilibrar o que é ouvido com o que é
sentido, não um teatro ou uma declamação, é um “saber usar” a voz de forma simples
e harmoniosa. Faz parte da
história humana o “passar de geração a geração” determinado assunto através das
contações de história, onde os mais velhos eram rodeados pelos mais novos que
ansiosos aguardavam as palavras sábias de seus mestres. Além de tribos e grandes sociedades, o ato de
contar histórias também faz parte da história individual do ser humano inserido
em um determinado contexto onde ouvindo histórias, já na infância, entra em
contato com o mundo da imaginação. Mundo
esse que auxilia o ser a lidar com diversos sentimentos, como frustrações,
alegrias, tristezas, sonhos, medos, ciúmes e outros mais.
Fazendo
parte deste desenvolvimento está a literatura infantil que até pouco tempo era
vista como um brinquedo para a criança ou um meio para entretê-la e mantê-la
quieta. Mas através da psicologia
experimental (que objetiva entender o comportamento através de situações
criadas por estudiosos) a literatura foi reconhecida como importante ferramenta
para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A partir desse conhecimento do ser humano, a
noção de “criança” muda e nesse sentido torna-se decisivo para a literatura
infantil adequar-se ou conseguir falar, com autenticidade, aos seus possíveis
destinatários.
Partindo
do pressuposto de que o desenvolvimento da linguagem abrange estímulos
propiciados na primeira infância e que a contação de histórias faz parte destes
estímulos, ressalta-se a importância desses dois aspectos estarem envolvidos no
cotidiano infantil em âmbito escolar e familiar para um efetivo e permanente
trabalho de sucesso onde a criança é o foco principal. É de suma importância que este trabalho seja
exercido pelo mediador objetivando a internalização efetiva e permanente dos valores
inseridos na cultura do qual esse indivíduo (a criança) faz parte.
Na
primeira infância (compreendida dos 15/17 meses aos três anos), a criança
inicia um reconhecimento da realidade ao seu redor através de diferentes
fatores, assim como, contatos afetivos e estímulos sensoriais. Os livros destinados o público infantil estão
cada vez mais presentes nas instituições de Educação Infantil e têm exercido
inúmeras funções. Como as crianças
gostam de ouvir histórias, o professor (a) utiliza as mesmas para transmitir
valores e hábitos sociais, como normas de comportamento, hábitos de higiene,
virtudes e bons comportamentos, para distrair e encantar, entre outras ações
que as histórias permitem.
Segundo
Filho e Castro (2002, pág.44):
Reconhece-se nitidamente que, em seu percurso
histórico, a educação infantil é marcada por funções sociais diferenciadas, que
oscilam entre o assistencialismo caracterizado por um atendimento restrito às
concessões médico-higiênico-nutricional e/ou a um modelo de educação
compensatório-preparatória referenciado na escolaridade posterior, podendo
chegar a um caráter pedagógico que contempla uma visão mais abrangente do
processo ensino-aprendizagem. Esse
último assume um papel educativo por excelência, favorecendo experiências significativas
que atendam aos interesses reais da criança e que viabilizem a construção do
seu conhecimento.
Brincando
com as palavras utilizando-se de parlendas, cantiga de roda, quadrinhas, trava
línguas, o adulto trabalha o campo fonético (pronúncia) e semântico (sentido)
da língua proporcionando não apenas a oportunidade de interagir, mas de se
divertir e partilhar uma cultura lúdica.
Neste
contexto lingüístico, a contação de histórias revela-se uma atividade
interativa, estimuladora da linguagem da criança onde a mesma torna-se ator do
seu desenvolvimento oportunizando-se do conhecimento permitido pelo sonhar,
pelo imaginário do seu próprio mundo. E
o mais fantástico é a individualidade de cada mundo dentro de cada criança.
A
importância cultural do livro só será compreendida pela mesma muito mais tarde,
quando se tornar um adulto e contador de histórias. O importante é que mesmo sem saber a
importância cultural do livro a criança tenha contato com o mundo imaginário
desde muito cedo.
Muitas
são as formas de contar histórias, cada um apreende a forma que mais lhe seja
particular, pode ser oralmente através de fantoches, dedoches, aventais de
contação de histórias, maquetes, teatro, etc ou através da leitura onde o
locutor necessita basicamente do objeto livro.
O importante é que seja contada com entusiasmo e transmita ao ouvinte a
sua essência enquanto história, pois essas narrativas ampliam o universo
cultural das crianças, fazem parte da sua constituição e da sua identidade
enquanto sujeito.
Professoras
Katia T. L. Vier e Eliane N. S. Vanin
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